quarta-feira, 23 de abril de 2014

Escola Velha ou Escola das Gaias

Publicada por A.Mendes




Hoje vamos aqui contar a história da "Escola Velha" ou "Escola das Gais", que em tempos funcionou no Lugar das Gaias. O edifício onde funcionou esta escola foi concessionado pela Sr.ª Dª Maria Alexandrina Vieira Marques e herdeiros, como poderão verificar no texto publicado no Diário do Governo Nº 101 de 05 de Maio de 1877, texto que aqui publico.

Diário do Governo Nº 101 de 05 de Maio de 1877
3ª Repartição
“Sendo-me presente o requerimento em que Maria Alexandrina Vieira Marques, viúva de Manuel José Ferreira Marques, e seus filhos e noras José Paulino Ferreira Marques, Leopoldina da Silva Marques ,Adolpho Arbués Pereira Marques e Adelina Clarice Monteiro Marques, pedem a creação de uma cadeira de instrução primária no Logar das Gaias ,freguesia de S. Martinho de Sande, concelho de Guimarães, distrito de Braga, e oferecem ao estado para o estabelecimento d”essa cadeira uma casa mandada construir á sua custa e um quintal anexo, com a clausula de reverter tudo para a posse dos doadores ou dos seus herdeiros se a cadeira não for creada e provida no praso de um anno, ou se de futuro deixar de funccionar n”aquele prédio;
Attendendo a que pelo respectivo processo se prova a necessidade e conveniência da creação de uma escola de ensino primário para o sexo masculino no referido logar;
Attendendo a que o prédio oferecido está solidamente construído e reúne as condições e mais requisitos necessários e não só para o conveniente exercício da cadeira, mas também para a residência do professor, valendo de reis 1.400$000 a 1.800$000;
Attendendo a que a junta de parochia da referida freguesia se obriga a ministrar mobília e utensílios para a escola a contribuir com a quantia de 40$000 reis para as despezas de abertura, e a conservar o prédio em estado de se não interromperem os exercícios escolares;
Annuindo aos desejos dos requerentes, e louvandoo seu empenho e patriotismo pelo derramamento da instrucção popular:
Hei por bem, conformando-me com o parecer da junta consultiva de instrucção publica, e do procurador geral da coroa e fazenda, aceitar a indicada doação com a clausula mencionada, e crear uma cadeira de ensino primário para o sexo masculino no logar das Gaias ,  freguezia de S Martinho de Sande, concelho de Guimarães:
O presidente do conselho de ministros, ministro e secretario d”estado dos negócios do reino, assim o tenha entendido e faça excutar.  Paço da Ajuda, em 2 de maio de 1877. – Rei. – Marquez d”Avila e de Bolama””


*Texto fielmente transcrito do original

A Família da Quinta dos Ferreiros, além da doação do edifício, pagou ainda durante muitos anos a sopa e o pão para as crianças que frequentavam a Escola em tempos muito difíceis. A palavra que corria na freguesia era a de que a iniciativa partiu do Dr. Inácio da Mota Ferreira Marques tendo sido dada continuidade pela sua filha D. Maria Teresa de Balsemão Ferreira Marques.
A Escola tinha ainda, até do final dos anos 50, uma extensão que funcionava numa sala
de aulas naquela que é hoje a Rua de S. Gonçalo, antigo Lugar de Cimo de Vila. Esta extensão servia a parte alta da Freguesia e era conhecida como a “Escola de Cima de Vila”.

No mandato 1976/ 1979 a primeira Junta de Freguesia democraticamente eleita após o 25 de Abril iniciou o processo de construção de uma nova Escola, concretizando-se assim um sonho e uma necessidade para a época. Com a inauguração de um novo edifício no final dos anos 80, com 14 amplas salas de aula, refeitório e outros equipamentos necessários ao bom funcionamento de uma Escola, Sande S. Martinho ficou munido das melhores condições que existiam na época para as suas crianças.
No que diz respeito ao destino da “Escola Velha”, no final dos anos 70, a Junta de Freguesia em funções solicitou à Câmara Municipal que a escola continuasse a ter funções letivas, nomeadamente um Jardim de Infância e uma Escola de Educação de Adultos, esse pedido foi aceite pela Câmara Municipal. Como todos sabemos, no entanto, a Escola Velha está hoje abandonada e não é sequer propriedade pública. Isto aconteceu porque as juntas de freguesia subsequentes não deram a devida atenção ao edifício e à documentação existente, o que levou ao acionamento de uma cláusula presente no contrato original que obrigava a entrega do edifício aos herdeiros. Infelizmente, a inação da Junta de Freguesia levou à perda de um edifício de extrema importância histórica para a freguesia e um edifício que, certamente, ainda hoje poderia ser usado para muitas finalidades.

Nota: Já depois de ter redigido este artigo, chegou ao meu conhecimento que o grupo do Partido Socialista na Assembleia de Freguesia apresentou uma proposta no sentido de atribuir o nome de Maria Alexandrina Vieira Marques à atual Rua da Escola e de Dr. Inácio Mota Ferreira Marques a parte da atual Rua das Reguengas, o que me parece um ato de inteira justiça. No entanto, e uma vez que se vai proceder à alteração da toponímia de algumas ruas, seria de inteira justiça também, aproveitar esta oportunidade para atribuir o nome de uma das ruas da freguesia a Fernando Marques da Silva, antigo Presidente da Junta de Freguesia, como forma de reconhecimento pelos enormes serviços prestados à freguesia.  

António Mendes

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