História, Cultura e Património




Freguesia de Sande (S. Martinho)

Ordenação heráldica do brasão e bandeira
Publicada no Diário da República, III Série de 26/07/1999

Armas: Escudo de verde, quatro bilhetas de prata, carregada cada uma com uma espada de negro em pala. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco com a legenda de negro, em maiúsculas : “SANDE – SÃO MARTINHO“.

Descrição: O topónimo Couto assim como os topónimos Cimo de Vila e Paço, "... têm lições históricas que se penetram e se completam, significando, ora a mansão de um senhor remoto dessa propriedade ora, Couto nomeadamente, a imunização (decerto muito posterior) dela. A este respeito de propriedades alti-medievas, há que salientar os topónimos de idêntico significado nesta freguesia: Alvite, que é o genitivo Alviti sc, «villa» de alvitu(s), n. pessoal de origem germânica". 

Quintães, um outro genitivo, Quintani «villa», de uma Quinta (n. pessoal monotemático de origem igualmente germânica), e Sande, de Sandi «villa .(...)

(...) O mesmo pároco desta freguesia, na sua memória original (onde escreve Salhariz, por certo devido à pronúncia Sèlhariz), acusa a existência de uma torre senhorial antiga cerca da igreja, atribuída como sempre, a mouros, pelo povo, ainda com perto de sete metros de altura — mas «dizem fora mais alta em outro tempo» e «hoje serve de casa em que reside o cura» (séc. XVIII). Esta existência senhorial, porém, não autoriza a supor daqui a dita «meana de Selhariz».

Tendo por limites a margem direita do rio Ave, o monte de Outinho, a serra da Falperra e o relevo da Citânia de Briteiros, existiu desde remotas eras, segundo rezam velhos documentos, a chamada Terra de Sande, que se compunha de dezanove freguesias, das quais oito desapareceram na voragem dos tempos. Tinha como centro dinamizador o Mosteiro de Sande (anterior à nacionalidade — ou, pelo menos, ao século XII), a cujo topónimo foi buscar nome, e estendia-se pela área hoje ocupada pelas freguesias de S. Martinho, S. Clemente e S. S. Lourenço. Na de S. Martinho estava implantado o convento, que pertenceu, segundo algumas opiniões, aos monges Agostinianos e, historicamente assegurado, depois, aos Beneditinos. Em 1444, o arcebispo D. Fernando da Guerra transformou-o em abadia secular, sendo mais tarde convertido em comenda da Ordem de Cristo.

Por sua vez, a Terra de Sande estava, segundo o Censual de Braga — “o mais antigo e importante da Europa ocidental”, na opi-nião autorizada do Prof. A. de Jesus Costa —, na zona de influência, primeiramente, do arcediago de Lanhoso e, depois, na de Vermoim. Só em 1835 Sande e o seu alfoz passaram para a dependência do arciprestado de Guimarães, a cuja terra foi incorporada civil e eclesiasticamente.

Das oito freguesias desaparecidas acima citadas, duas encontravam-se dentro dos limites do mosteiro: Santa Maria de Sever e S. Pedro de Ruivós, que foram absorvidas, respectivamente, por S. Martinho e por S. Clemente.

Em tempos pré-históricos, viveram outros povos dentro dos muros da Terra de Sande, no conhecido Castro de Sabrosa, implantado na zona que hoje pertence a S. Lourenço. 

Por Sande passava a via romana Braga-Astorga, parte da grande via que ligava Lisboa a Roma. É na margem desta estrada, de que ainda existem vestígios, que existem os túmulos dos Quatro Irmãos, cuja lenda serviu de enredo a mais do que um autor e de motivo para várias versões.

Conta acerca deste nome o pároco de 1758: “Neste lugar de Quatro Irmãos se vê para a parte do norte, na estrada que discorre de Guimarães para Braga, quatro sepulturas de pedra fina, que se não sabe memória certa das pessoas que nelas existem; porque uns dizem serem de quatro irmãos que tiveram pendências e que neste lugar se mataram uns aos outros; a mim me parece manifesto engano, pela razão de se verem as mesmas sepulturas com decência para aqueles tempos, pois se admiram nas suas cabeceiras esculpidas cruzes da Ordem de Cristo, e com especialidade em três delas desenhadas espadas; e à vista disto me persuado ser isto do tempo dos Templários”.

Andava muito próximo da verdade o criterioso pároco — com eventual equívoco na análise às cruzes (parece haver confusão entre a do Templo e a de Cristo) —, mas o povo é que não quis saber destes rigores históricos, e prosseguiu com as suas fantasias. 

De facto, o grupo de túmulos não devia passar do que, até ao século XIII, se chamava “marmoirais” (ou memoriais), embora estes já não tivessem arcos no século XVIII (ou talvez os não possuissem nunca). Devem ser anteriores ao século XIII ou, pelo menos, ao XIV, e provam a perduração do costume de colocar os túmulos à beira da estrada. Tratar-se-á, portanto, de sepulturas de pessoas ilustres da região.

A antiguidade de Sande é comprovada, também, pelo nome de um curso de água que a banha em toda a sua extensão, nascido na encosta do monte Sameiro e que é afluente do rio Ave. É conhecido por rio Febras, o “Rivulo Feveros” de que falam as inquiri-ções do século XII e cuja grafia — na opinião do paleólogo Jesus Costa — vem de tempos anteriores à invasão da Península pelos árabes.

Na freguesia, além da bela igreja paroquial, a mais vasta das redondezas e que substituiu uma de estilo românico no século XVII, existem duas capelas: a de Santo Amaro, cuja festa, sempre muito concorrida, se efectua nos meados de Janeiro, e a formosa Capela de S. Bernardo, da Quinta de Tarrio, de bela traça D. João V e que possui diversas imagens coevas da sua construção.

Terra de trabalho. Na agricultura, com uma série de quintas de “gente de algo”, granjeadas por uma dinastia de honrados lavradores. Na indústria, foi Sande, até há poucas dezenas de anos, o centro principal do país na produção de garfos de ferro, que ocupava grande parte da mão-de-obra masculina. Eram espalhados pelas tradicionais feiras da província por “ambulantes”, de que ainda hoje existem descendentes, ao som do famoso pregão: “Quem quer navalhas baratas, canivetes, alicates, garfos chatos, oitavados e redondos, trinchadores, facas de folheto!”

As mulheres, além do trabalho doméstico, que incluia a “ida ao monte” à procura de “piques” e “caruma” para acender a lareira e o forno onde eram preparados o “caldo e broa”, agarravam-se ao tear manual a tecer teias de pano barato, desde antes do romper da aurora até adiantadas horas da noite, espalhando pelos ares a sinfonia barulhenta dessas preciosas peças etnográficas, hoje completamente desaparecidas.

Actualmente, a indústria dominante e que absorve quase completamente a mão-de-obra desta terra é a produção de talheres, em unidades industriais cuja dimensão se impõe mesmo a nível internacional e de cujo ramo foi pioneira na aplicação de aço inoxidável, nos princípios da década de trinta, na então importante Fábrica de Sande.

A cerca de nove quilómetros da sede do concelho, está a freguesia de S. Martinho de Sande implantada na encosta do monte de Outinho, em autêntico anfiteatro, de cujo Picoto se goza uma visão paradisíaca sobre o vale do Ave. Estende-se por dezenas de lugares onde se destacam, pela sua dimensão, os da Rocha, Cima de Vila, Ribeira, Pontes e Gaias. Os outros são: Alvite, Assento, Burgão, Cachadinha, Cuteluda, Lamelas, Pedreira, Reguengos, Souto, Saburno e Tarrio.

Ao lugar de Gaias tornou-o conhecido Camilo Castelo Branco, no seu romance “A Enjeitada”. Aqui se situa uma ampla e velha escola, doada em 1877 por Alexandrina Vieira Marques. Hoje substituída, permanece na lembrança de muitas gerações que por ela passaram e que sonham vê-la aproveitada como museu etnográfico das indústrias artesanais que afamaram Sande pelos tempos fora.

À mesma família pertencia o Dr. Inácio Ferreira Marques, da Casa do Salgueiro, que financiou, durante anos, a cantina da referida escola. Na mesma linhagem familiar e de benemerência vem o nome de Maria Teresa Ferreira Marques.

Outros ilustres: o professor João Rodrigues Marques — que ensinou na velha escola, com competência e dedicação, durante trinta ou quarenta anos — e, finalmente, o coronel-médico Francisco Garcia — que viveu em Sande e que, há cerca de cem anos, se notabilizou nas Campanhas de África como estudioso e divulgador dos problemas sanitários coloniais. 

Como síntese do que fica escrito, seja permitida a transcrição das impressões que José Augusto Vieira registou, no século passado, na raridade bibliográfica “O Minho Pitoresco”: 

“Descendo as abas da serra da Falperra, note a situação das quatro Sandes (S. Clemente, S. Lourenço, S. Martinho e Santa Maria de Vila Nova), embora em uma excursão pela estrada de Braga melhor tivesse ensejo de as conhecer, visto que marginam o caminho à esquerda da Vila Nova de Sande e S. Clemente, e à direita, no fundo de uma pitoresca bacia vegetal, S. Martinho e S. Lourenço. As três Sandes primeiras formaram até ao século XVI uma só paróquia, dividindo-se depois em três curatos dependentes do de S. Martinho, que era o mais importante tanto sob o ponto de vista de população como de recordações históricas.”



A Igreja

É esta Igreja uma das mais preciosas do termo da Vila de Guimarães por ser muito grande, de uma só nave, toda azulejada ao antigo e pelo tecto se admiram excelentes pinturas. Tem cinco altares, o principal de S. Martinho, orago dela, donde se venera o Santíssimo Sacramento, que tem Confraria de bastante rendimento. Os mais são de N. S.& do Rosário, que também tem Confraria; o grande Partiarca S. José, o Senhor Crucificado e o último a Ressurreição do mesmo Senhor. Na parede da sacristia desta Igreja se acham da parte de fora umas pedras com letras que disçem «setribus abundantior... e as mais que continuavam que não se podem ler pelo decurso de muitos anos quasi as consumir.
Tem esta freguesia duas Capelas, uma de Santa Maria, sita no Lugar de Sever, que afirmam os antigos fora Abadia e hoje se acha unida a esta Igreja e o pároco lhe administra os sacramentos aos seus moradores; outra no Lugar de Cimo de Vila com a invocação de S. Gonçalo dos Mártires a qual se acha demolida e só existem parte das paredes por não ter fábrica nem padroeiro, e o Santo se colocou nesta Igreja, donde até ao presente se venera.” (CALDAS, António José Ferreira, 1996)


“Os edifícios notáveis que nesta freguesia ha são a Igreja, duas Capelas e um antiquíssimo monumento dos quatro Irmãos, que consta de quatro pedras em forma de campas, que em volta tinham ameias as quais com o andar dos tempos se foram demolindo, estão do lado esquerdo da estrada que atravessa a freguesia e hoje tem uma fonte do mesmo lado.
Tem duas pontes de padieiras de pedra, construídas toscamente…
Os Monumentos notáveis são a Igreja, a Capela de Santo Amaro, que tem uma romaria a 15 de Janeiro, a Capela particular da Casa de Tarrio, bem construída de pedra de cantaria, as campas dos Quatro Irmãos que estão próximos da estrada e muito próximo um picho jflas almas!, onde está um irmão todas as terças feiras a pedir esmola para sufrágio das mesmas.” (CALDAS, António José Ferreira, 1996)


Capela de S. Bernardo

“Pelo licenciamento concedido no ano de 1781, em ordem à prática do culto divino nesta capela, concluímos que foi edificada por Manuel Machado Pereira e seu irmão Bernardo Pereira, ao pé do portal da sua quinta de Tarrio.
"Dom Gaspar Arcebispo e Senhor de Braga (...). Havendo respeito ao que nos reprezentou Manoel Machado Pereira e seu irmão Bernardo Machado da freguezia de São Martinho de Sande deste nosso Arcebispado que com licença e provizão Nossa mandarão fazer huma capella ao pé do portal da sua quinta citta no lugar do Tarrio da mesma freguezia, a qual se acha feita e concluhida de todo o necessário (...) vista a informaçam que tivemos do Reverendo parocho e o mais que concideramos, concedemos licença (...) para benzer a dita capella (...). Dada em Braga (...) aos 26 de May o de 1781 ".
Em 1845, era seu administrador João Mendes de Sousa Machado, estando decente para a celebração da missa. Daí para cá, conheceu vários proprietários. Encontra-se em estado de nela se poder celebrar.” (SILVA, Hilário Oliveira da, 2004)

Capela de S. Gonçalo


“Não se conhece qualquer fonte documental que referencie a sua edificação no antigo lugar do Cimo de Vila. Segundo o autor das Memórias Paroquiais, porém, já nessa altura só parte das suas paredes resistia à ruína completa, por não ter fábrica nem padroeiro, estando a imagem do seu titular na igreja paroquial.
0 hagiotopónimo ainda hoje se mantém, bem como uma pequena cruz mutilada, a atestar a sacralidade de outrora desse local. Quanto à sua antiguidade, não restam quaisquer dúvidas, pois a ela vinham em clamor votivo os fregueses de S. Lourenço de Sande, em dia de Ascensão, como dissemos acima.” (SILVA, Hilário Oliveira da, 2004)

Túmulo dos Quatro Irmãos

“Tem na base a data de 1840. Não deve, em nosso entender, ser o primitivo.” (SILVA, Hilário Oliveira da, 2004)
“O «Portugal Antigo e Moderno» de Augusto Soares de Azevedo Barbosa de Pinho Leal — Lisboa — 1878. sob o título «Quatro Irmãos, refere: «.lugar muito agradável e pitoresco, Minho, nas faldas da Serra da Falperra, estrada de Guimarães para Braga. Deu-se o nome de «quatro irmãos», a quatro penedos que parecem tampas de sepulturas, segundo a tradição, quatro irmãos d'estes sítios, filhos de Maria do Canto, amavam uma formosa menina, sobrinha do abade da freguesia. Ardendo em amor e ciúme, os quatro irmãos reptaram-se para n'este lugar decidirem á paulada, quem havia de casar com a rapariga. Três ficaram logo mortos no campo, e o quarto, que ainda viveu algumas horas é que contou tudo ao abade, que os mandou enterrar no sítio da contenda, que se ficou denominando os «quatro irmãos»”.(CALDAS, António José Ferreira, 1996)

Capela de Santo Amaro

“A Capela de Santo Amaro existe e está bem conservada. No seu interior existe uma lápide com a seguinte legenda: «Capela de Santo Amaro, outrora erecta no lugar do Burgão, reedificada a expensas de António da Silva Carvalho — 1900».
Este lugar do Burgão fica próximo do lugar onde se situava a Igreja de Santa Maria de Sever que desa¬pareceu.
O conjunto de imagens desta Capela de Santo Amaro é muito pobre. Além do Santo Amaro, colocado na nave, tem um Cristo crucificado, uma Santa Quitéria e um S. Bento no altar-mor.” (CALDAS, António José Ferreira, 1996)

Oratório

“Á distancia de 50 metros da Egreja matriz, junto a estrada real, levanta-se um elegante oratório de pedra fina, encimado por uma cruz e dous obeliscos. No retábulo acha-se pintada a trindade, diffcrentes santos e as almas do purgatório e no fundo do retábulo esta inscrição: — O vós que ides passando lembrai-vos de nós que estamos penando.» — N'este activo fogo por Deus asuprado, queima nossas almas ó negro pecado.» — Se vós cá estiveras submergidos em fogo, ó vós não quiseras esquecer ao povo.» — Acudi ao pai, á mãe e ao irmão, e estes tromentos que aqui nos dão.» — Só justiça divina assim condenas, he serto q'a culpa merece tal penna. — Na base do oratório entre estas = anno = 1867 = vê-se esta. Ó irmão que ides paçando, lembrai-vos de nós que estamos penando V. P. N. A. Este alat.° M. F-A mesa. — Aos lados do oratório dous bancos de pedra, um de cada lado.
Quasi de fronte do oratório anterior levanta-se o cruzeiro parochial, elegante, assentado em 5 degraus de pedra granito fino tendo na base na face sul a data 1840. — De fronte da porta principal de Egreja ha uma alpendrada sustida em 4 colunnatas, sob a qual está uma cruz de pedra tendo pintada a imagem de Christo crucificado sob a invocação.
— O cruzeiro datado existe, bem como a cruz de pedra com sua cobertura.” (CALDAS, António José Ferreira, 1996)

Fontes:

SILVA, Hilário Oliveira da, Capelas; Cruzeiros e Clamores no Arciprestado de Guimarães e Vizela, Guimarães, 2004.

CALDAS, António José Ferreira, Guimarães, apontamentos para a sua História -Guimarães, 1996










Sande em Camilo Castelo Branco

Poucos saberão, mas Sande está imortalizada na literatura do grande escritor Camilo Castelo Branco. Mais precisamente na novela «A enjeitada», ou «engeitada» como se escrevia na época(o livro foi editado em 1866). Parte do enredo decorre no Largo das Gaias, ainda hoje conhecido por esse nome.

«Ouviu ella grande algazarra de rapazio e sahiu á
porta. Viu um arlequim com duas mocinhas vesti,
das de escarlate e borzeguins amarellos, caminhan-
do para o largo das Gaias.»


Leia «A enjeitada» seguindo esta ligação


Sande São Martinho em 1842
Relatório do inquérito paroquial. 
Fonte: Revista de Guimarães nº 108


Esta freguesia tem a sua colocação plana com alguns lugares mais elevados, virada a Nascente. Distante da vila de Guimarães légua e meia, e da cidade de Braga outra igual distância, da maior parte dela se avistam a Serra da Falperra, por cima de Balazar, e o monte de Santa Marta, os montes de Santa Cristina que são o Fojo, a Serra da Cabreira, a Citânia, o Sabroso de Travanca, a Serra de Gonça, os montes de Prazins e Souto, a Serra de Santa Catarina, o Bom Jesus de Barrosas, e a Senhora do Monte.


Clima saudável, é bastante exposta aos ventos Norte, Sul e do Nascente, é tocado de neves, chuvas e saraivas na sua estação competente.


Esta freguesia confronta da parte do Norte com Salvador de Balazar e São Lourenço de Sande, do Nascente com São Tomé de Caldelas, do Sul e Poente com São Clemente de Sande.


Os habitantes desta freguesia moram em lugares separados e a maior parte são bastante populosos.


Os animais quadrúpedes desta freguesia são bois, vacas, mulas, éguas, cavalos, jumentos, porcos, gatos, cabras, ovelhas, carneiros, cães, entre estes há também os quadrúpedes bravos como são raposas, gatos bravos, texugos, fuinhas, lontras, doninhas, ratos estes são de três espécies que vêm a ser os ordinários, chamados de armário, os de musgo que tem diferente cor, chamados de campo, as ratazanas que andam nos ribeiros e são grandes; coelhos e lebres mas muito poucos.


Répteis: cobras, sardões, lagartas, minhocas.


Insectos com asas: grilos, moscas, mosquitos, trombeteiros, zangões, abelhas, vespas, borboletas e de diferentes cores (nota do editor: e cigarras e libélulas e muito mais).


Aves: galinhas, perus, patos, parrecos(a que vulgarmente chamam gansos), pardais, melros, gaios(aves daninhas), pimpalhões, pintassilgos, rouxinóis, ave que tem um cântico muito harmonioso na Primavera.


Nesta freguesia há um regato que passa pelo meio, os peixes que nele existem são trutas(mas muito poucas), alguns escalos, e denomina-se rio Febras talvez em consequẽncia de ser muito frio.


Na classe das plantas entram a couve galega, couve nabiça, alface, batatas, e há várias qualidades de curiosidades que são sementadas como são feijões de assubir(sic), ervilhas, favas, cebolinho que admite transplantação, abóboras, cabaças, e estas são de diferentes espécies.


[...]Os géneros que produz esta freguesia são milho grosso branco, amarelo, feijão de muitas qualidades, centeio, milho alvo, painço. Vinho é verde ou de enforcado mas em abundância. O alimento dos pobres é pão de milho e caldo.
[...]


Tem muita abundância de penedos que servem de muita utilidade porque depois de quebrados servem para tapar os campos resguardados dos animais.


Não teve esta freguesia divisão nenhuma, nem civil nem militar, só a teve no eclesiástico, porque pertencia ao vigário geral de Braga, e agora está pertencendo desde 1935 ao arcipreste de Guimarães. Pagam os habitantes impostos: décimas prediais e industriais.


Edifícios notáveis que nesta freguesia há são a igreja, duas capelas e um monumento antiquíssimo nos Quatro Irmãos que consta de quatro pedras em forma de campas e em volta tinha ameias que com o andar do tempo foram-se demolindo; estão do lado esquerdo da estrada que atravessa a freguesia e hoje tem uma fonte do mesmo lado.










Tem duas pontes de padieiras de pedra e construídas toscamente. A estrada que a atravessa de Guimarães para Braga, só tem o monte da Rocha que lhe fica ao Poente e talvez assim se denomine em razão da muita abundância de penedos que tem; tem a maior parte do seu terreno reduzido à cultura, e bastante falta de matos e lenhas; e água de rega pouca.


Os monumentos notáveis são a igreja e a capela de Santo Amaro, que tem uma romaria a quinze de Janeiro, a capela particular da casa de Tarrio bem construída de pedra de cantaria, as Campas dos Quatro Irmãos que estão próximas à estrada e quase próximo um nicho de Almas, onde está um irmão todas as terças feiras a pedir esmolas para o sufrágio das mesmas.


Tem um ribeiro chamado Rio de Febras e toca esta água oito moinhos no inverno, e também tem um engenho de moer azeitonas.


[...]


Tem esta freguesia trinta e oito garfeiros e nove lojas deste ofício, e um fraco serralheiro, seis oficiais de carpinteiro e entre estes só um se pode chamar mestre mas trabalha avulsamente não tem loja aberta, quatro sapateiros fracos, só fazem obra de feira, e também oito músicos.




As romarias a que os povos vão são ao Santo Amaro, ao São Brás, a três de Fevereiro, à Senhora de Sande, na primeira oitava da Páscoa, ao Bom Jesus no Espírito Santo e com frequência em outros dias para alcançar o Jubileu, à Santa Marta, a 29 de Julho, a Senhora da Abadia, a 15 de Agosto(mas esta romaria dura uns poucos de dias, começa dia de São Lourenço e acaba a 15), à Senhora de Porto de Ave, a 8 de Setembro, e à Senhora do Alívio que é no segundo Domingo de Setembro. Consta por uma tradição muito antiga que fora um mosteiro de frades eremitas de Santo Agostinho, e depois frades beneditinos e depois que fora Abadia e hoje está em comenda da Ordem de Cristo e por tanto em reitoria.