quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Polaróides de figuras extintas I - Pintor Barbosa

Publicada por Jorge Mendes

Roubo para esta esta coluna o título de um livro de Douglas Coupland, que me parece adequado ao exercício de memória que aqui quero fazer.


Penso que muitas das pessoas, que como eu, não vivem o dia a dia em Sande, sentem o choque de por vezes lerem a secção de óbitos deste site e pensarem que essa Sande - que de certa forma é apenas uma memória de um passado mais ou menos distante - vai desaparecendo a pouco e pouco.

Esta coluna nasce para que fiquem registadas algumas pessoas e as suas estórias. Podem não ter sido algumas delas pessoas importantes no sentido social do termo, mas certamente deixaram impressões na nossa memória. Convido os leitores a contribuir com personagens que queiram ver lembradas e até que nos enviem os seus próprios textos.

Pintor Barbosa

Domingos Barbosa Ribeiro, nascido em 26 de Agosto, arrisco de 1949. Todas as terras têm pelo menos um personagem parecido, capaz de animar ou por em reboliço qualquer Café ou tasca.

As suas aventuras mirabolantes como cozinheiro ou pintor são dignas de livros de aventuras, e de tanto contadas chegam a adquirir contornos mitológicos. Era corrente por exemplo a estória na qual ele e o irmão foram contratados para um restaurante como cozinheiros, tendo começado um cozinhado como «batatas à espanhola» e acabado com «bacalhau à Gomes-de-Sá» - ou terá sido ao contrário?.

Chamavam-lhe «Mitó», certamente uma abreviatura de mitómano, dado que a realidade era coisa que ele ia fabricando a cada momento. Sempre o conheci por essa alcunha, e outras foi adquirindo com o tempo, como a de «Pintor Barbosa» que ganhou quando decidiu que a sua vocação de vida era na verdade a de ser pintor de construção civil. Em abono da verdade pouco pintou enquanto profissional, mas também não se pode dizer que nunca pintou.

Como figura especial que era, com uma dose imensa de ingenuidade, vivia num ambiente que com uma certa ambiguidade por vezes o usava para animar a festa e o tornava presa fácil de alguns grunhos ou borrachões, e por outro lado o ia protegendo, arranjando-lhe trabalho ou não o deixando meter-se em sarilhos, uma das suas especialidades.

Foi justamente quando se aventurou fora do seu ambiente natural que o «Pintor Barbosa» traçou o seu destino, porque ficou por sua conta num mundo violento no qual a mão amiga que por fim sempre aparecia deixou de existir. Por isso morreu de forma trágica, depois de notícias que iam dando notas de como era abusado pelos lugares por onde andava.

Ele costumava sentar-se na nossa tasca a ver televisão, numa mesa em frente ao balcão, e foi numa dessas situações, em que ele estava quieto o suficiente para que eu pudesse trabalhar, que eu o desenhei em 22 de Julho de 1995.

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