DESCRIÇÃO DA FREGUESIA | | Situa-se a uma distância de nove quilómetros da sede do concelho. "O reitor desta freguesia, de 1758, padre Jerónimo Pereira da Silva, na sua memória original, situa a dita freguesia «em um declivoso terreno», a coberto de montes, entre os quais o de Outinho. A arqueologia da freguesia de Sande (S. Clemente) significa identicamente para esta, e até a toponímia desta mesma se pode pôr de par com a daquela, pelas suas várias espécies" O topónimo Couto assim como os topónimos Cimo de Vila e Paço, "... têm lições históricas que se penetram e se completam, significando, ora a mansão de um senhor remoto dessa propriedade ora, Couto nomeadamente, a imunização (decerto muito posterior) dela. A este respeito de propriedades alti-medievas, há que salientar os topónimos de idêntico significado nesta freguesia: Alvite, que é o genitivo Alviti sc, «villa» de alvitu(s), n. pessoal de origem germânica". Quintães, um outro genitivo, Quintani «villa», de uma Quinta (n. pessoal monotemático de origem igualmente germânica), e Sande, de Sandi «villa .(...) (...) O mesmo pároco desta freguesia, na sua memória original (onde escreve Salhariz, por certo devido à pronúncia Sèlhariz), acusa a existência de uma torre senhorial antiga cerca da igreja, atribuída como sempre, a mouros, pelo povo, ainda com perto de sete metros de altura — mas «dizem fora mais alta em outro tempo» e «hoje serve de casa em que reside o cura» (séc. XVIII). Esta existência senhorial, porém, não autoriza a supor daqui a dita «meana de Selhariz». Tendo por limites a margem direita do rio Ave, o monte de Outinho, a serra da Falperra e o relevo da Citânia de Briteiros, existiu desde remotas eras, segundo rezam velhos documentos, a chamada Terra de Sande, que se compunha de dezanove freguesias, das quais oito desapareceram na voragem dos tempos. Tinha como centro dinamizador o Mosteiro de Sande (anterior à nacionalidade — ou, pelo menos, ao século XII), a cujo topónimo foi buscar nome, e estendia-se pela área hoje ocupada pelas freguesias de S. Martinho, S. Clemente e S. S. Lourenço. Na de S. Martinho estava implantado o convento, que pertenceu, segundo algumas opiniões, aos monges Agostinianos e, historicamente assegurado, depois, aos Beneditinos. Em 1444, o arcebispo D. Fernando da Guerra transformou-o em abadia secular, sendo mais tarde convertido em comenda da Ordem de Cristo. Por sua vez, a Terra de Sande estava, segundo o Censual de Braga — “o mais antigo e importante da Europa ocidental”, na opi-nião autorizada do Prof. A. de Jesus Costa —, na zona de influência, primeiramente, do arcediago de Lanhoso e, depois, na de Vermoim. Só em 1835 Sande e o seu alfoz passaram para a dependência do arciprestado de Guimarães, a cuja terra foi incorporada civil e eclesiasticamente. Das oito freguesias desaparecidas acima citadas, duas encontravam-se dentro dos limites do mosteiro: Santa Maria de Sever e S. Pedro de Ruivós, que foram absorvidas, respectivamente, por S. Martinho e por S. Clemente. Em tempos pré-históricos, viveram outros povos dentro dos muros da Terra de Sande, no conhecido Castro de Sabrosa, implantado na zona que hoje pertence a S. Lourenço. Por Sande passava a via romana Braga-Astorga, parte da grande via que ligava Lisboa a Roma. É na margem desta estrada, de que ainda existem vestígios, que existem os túmulos dos Quatro Irmãos, cuja lenda serviu de enredo a mais do que um autor e de motivo para várias versões. Conta acerca deste nome o pároco de 1758: “Neste lugar de Quatro Irmãos se vê para a parte do norte, na estrada que discorre de Guimarães para Braga, quatro sepulturas de pedra fina, que se não sabe memória certa das pessoas que nelas existem; porque uns dizem serem de quatro irmãos que tiveram pendências e que neste lugar se mataram uns aos outros; a mim me parece manifesto engano, pela razão de se verem as mesmas sepulturas com decência para aqueles tempos, pois se admiram nas suas cabeceiras esculpidas cruzes da Ordem de Cristo, e com especialidade em três delas desenhadas espadas; e à vista disto me persuado ser isto do tempo dos Templários”. Andava muito próximo da verdade o criterioso pároco — com eventual equívoco na análise às cruzes (parece haver confusão entre a do Templo e a de Cristo) —, mas o povo é que não quis saber destes rigores históricos, e prosseguiu com as suas fantasias. De facto, o grupo de túmulos não devia passar do que, até ao século XIII, se chamava “marmoirais” (ou memoriais), embora estes já não tivessem arcos no século XVIII (ou talvez os não possuissem nunca). Devem ser anteriores ao século XIII ou, pelo menos, ao XIV, e provam a perduração do costume de colocar os túmulos à beira da estrada. Tratar-se-á, portanto, de sepulturas de pessoas ilustres da região. A antiguidade de Sande é comprovada, também, pelo nome de um curso de água que a banha em toda a sua extensão, nascido na encosta do monte Sameiro e que é afluente do rio Ave. É conhecido por rio Febras, o “Rivulo Feveros” de que falam as inquiri-ções do século XII e cuja grafia — na opinião do paleólogo Jesus Costa — vem de tempos anteriores à invasão da Península pelos árabes. Na freguesia, além da bela igreja paroquial, a mais vasta das redondezas e que substituiu uma de estilo românico no século XVII, existem duas capelas: a de Santo Amaro, cuja festa, sempre muito concorrida, se efectua nos meados de Janeiro, e a formosa Capela de S. Bernardo, da Quinta de Tarrio, de bela traça D. João V e que possui diversas imagens coevas da sua construção. Terra de trabalho. Na agricultura, com uma série de quintas de “gente de algo”, granjeadas por uma dinastia de honrados lavradores. Na indústria, foi Sande, até há poucas dezenas de anos, o centro principal do país na produção de garfos de ferro, que ocupava grande parte da mão-de-obra masculina. Eram espalhados pelas tradicionais feiras da província por “ambulantes”, de que ainda hoje existem descendentes, ao som do famoso pregão: “Quem quer navalhas baratas, canivetes, alicates, garfos chatos, oitavados e redondos, trinchadores, facas de folheto!” As mulheres, além do trabalho doméstico, que incluia a “ida ao monte” à procura de “piques” e “caruma” para acender a lareira e o forno onde eram preparados o “caldo e broa”, agarravam-se ao tear manual a tecer teias de pano barato, desde antes do romper da aurora até adiantadas horas da noite, espalhando pelos ares a sinfonia barulhenta dessas preciosas peças etnográficas, hoje completamente desaparecidas. Actualmente, a indústria dominante e que absorve quase completamente a mão-de-obra desta terra é a produção de talheres, em unidades industriais cuja dimensão se impõe mesmo a nível internacional e de cujo ramo foi pioneira na aplicação de aço inoxidável, nos princípios da década de trinta, na então importante Fábrica de Sande. A cerca de nove quilómetros da sede do concelho, está a freguesia de S. Martinho de Sande implantada na encosta do monte de Outinho, em autêntico anfiteatro, de cujo Picoto se goza uma visão paradisíaca sobre o vale do Ave. Estende-se por dezenas de lugares onde se destacam, pela sua dimensão, os da Rocha, Cima de Vila, Ribeira, Pontes e Gaias. Os outros são: Alvite, Assento, Burgão, Cachadinha, Cuteluda, Lamelas, Pedreira, Reguengos, Souto, Saburno e Tarrio. Ao lugar de Gaias tornou-o conhecido Camilo Castelo Branco, no seu romance “A Enjeitada”. Aqui se situa uma ampla e velha escola, doada em 1877 por Alexandrina Vieira Marques. Hoje substituída, permanece na lembrança de muitas gerações que por ela passaram e que sonham vê-la aproveitada como museu etnográfico das indústrias artesanais que afamaram Sande pelos tempos fora. À mesma família pertencia o Dr. Inácio Ferreira Marques, da Casa do Salgueiro, que financiou, durante anos, a cantina da referida escola. Na mesma linhagem familiar e de benemerência vem o nome de Maria Teresa Ferreira Marques. Outros ilustres: o professor João Rodrigues Marques — que ensinou na velha escola, com competência e dedicação, durante trinta ou quarenta anos — e, finalmente, o coronel-médico Francisco Garcia — que viveu em Sande e que, há cerca de cem anos, se notabilizou nas Campanhas de África como estudioso e divulgador dos problemas sanitários coloniais. Como síntese do que fica escrito, seja permitida a transcrição das impressões que José Augusto Vieira registou, no século passado, na raridade bibliográfica “O Minho Pitoresco”: “Descendo as abas da serra da Falperra, note a situação das quatro Sandes (S. Clemente, S. Lourenço, S. Martinho e Santa Maria de Vila Nova), embora em uma excursão pela estrada de Braga melhor tivesse ensejo de as conhecer, visto que marginam o caminho à esquerda da Vila Nova de Sande e S. Clemente, e à direita, no fundo de uma pitoresca bacia vegetal, S. Martinho e S. Lourenço. As três Sandes primeiras formaram até ao século XVI uma só paróquia, dividindo-se depois em três curatos dependentes do de S. Martinho, que era o mais importante tanto sob o ponto de vista de população como de recordações históricas.” | |
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